Não se pode pronunciar a palavra "câncer" sem que ele evoque o medo da morte. Mas o medo paralisa. É sua natureza. Quando ouvimos que nossa vida está correndo grave perigo, experimentamos com frequência essa estranha paralisia. Mas a doença não vai passar do nosso lado somente. O medo bloqueia nossa força vital no momento em que mais temos necessidade dela.
Aprender a lutar contra o cancer é aprender a nutrir a vida dentro de nós. Mas não é obrigatoriamente uma luta contra a morte. Ter êxito nesse aprendizado é chegar a tocar na essência da vida. Pode acontecer de a morte fazer parte desse êxito, mas as esperanças não podem falhar, NUNCA. Há pessoas que vivem suas vidas sem apreciar seu verdadeiro valor. Resumindo: é preciso começar desarmando o medo.
Ao lado do medo de sofrer e do medo do vazio. Há também a angústia da solidão diante do que Tolstoi chama de "ato monumental e solene da própria morte. Temos medo de que ninguém consiga nos trazer reconforto, de tanto que o tema é aterrador. A solidão frequentemente faz sofrer bem mais do que a dor física.
Nós estamos tão habituados a cuidar dos outros do que a receber suas atenções, porém precisamos ter em mente que nós também precisamos dessa atenção. É importante!!! A doença não pode ser um fardo, não pode ser tratado como um fardo.
Eu tive a oportunidade de ter uma grande mestra: minha avó. Reservada, falando pouco de si mesma, ela foi uma presença constante em todas as passagens da infância que me pareceram difíceis. Há uns seis anos, fui visitá-la no que nós duas sabíamos ser seu leito de morte. Inspirada pela beleza e pela calma da minha avó vestida de sua bonita camisola branca, segurei suas mãos dizendo o quanto ela fora importante para a criança que agora tinha crescido. Claro que eu chorava, sem saber o que fazer das minhas lágrimas. Ela recolheu com o dedo uma das lágrimas e me mostrou sorrindo docemente: "Você sabe, para mim, suas palavras e suas lágrimas são pérolas de ouro que eu vou levar comigo..." Quanto a mim, eu levei a imagem de seus últimos dias. Mesmo depois de se tornar inteiramente dependente dos outros, quando seu corpo já a abandonava, deu a todos os filhos e netos o presente de amor que permanece quando não se tem mais nada para dar.
Hoje a palavra "Câncer" não é mais sinônimo de morte. Mas ela evoca sua sombra. Para muitos pacientes, essa sombra é a oportunidade de refletir sobre a própria vida, sobre o que fazer dela. Pense que é agora que você vai viver sua vida da melhor maneira possível. É a melhor maneira de se preparar para o que vai acontecer, para o que quer que tenha que acontecer.
Só peço que REFLITA!!!
Abraços,
Eli Amorim...
"O medo sempre me guiou para o que eu quero. E porque eu quero, temo. Muitas vezes foi o medo que me tomou pela mão e me levou. O medo me leva ao perigo. E tudo o que eu amo é arriscado.”
* Clarice Lispector *
1 comentários:
Que mensagem maravilhosa, e a música de fundo ficou mais convidativa a refletirmos muito sobre o texto.
Parabéns pelo lindo trabalho.
Beijos
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